Irmã do suposto mentor da matança em Itajá, mulher escapou de atentado.
Policial telefonou e acabou gravando o momento de súplica da vítima.
O telefone celular de um policial civil gravou a voz de uma mulher suplicando para não ser assassinada. O atentado aconteceu na noite desta sexta-feira (17) numa região de mata fechada no bairro de Nova Parnamirim, na Grande Natal. “Não... não... comigo não... comigo não.. Não faz isso comigo não...”, implora a vítima (ouça o áudio acima). Ainda segundo a polícia, a mulher que escapou da morte é considerada testemunha-chave da chacina que vitimou cinco mulheres dentro de um prostíbulo na zona rural de Itajá, cidade distante 200 quilômetros de Natal.
"A mulher é irmã do comerciante Francisco de Assis Júnior, de 38 anos. Mais conhecido como ‘ET’, ele foi preso na manhã da sexta-feira em Macaíba, na região Metropolitana da capital, eestá sendo apontado como o mentor da matança", confirmou o delegado Normando Feitosa.
O áudio, que tem 45 segundos, foi gravado por um policial civil no momento exato em que a mulher estava sendo amarrada numa árvore. O agente ligou para ela ao retornar duas chamadas que feitas para o telefone dele. Como estava dirigindo, o policial não atendeu de imediato. Depois, quando parou o carro, ele tentou falar com a mulher. De alguma forma ela atendeu no momento em que estava em poder dos criminosos. A polícia explicou que o celular do agente possui um aplicativo que capta, automaticamente, todas as ligações que ele faz e recebe.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, o atentado aconteceu nas imediações da Av. Maria Lacerda Montenegro. Três homens encapuzados abordaram a mulher quando ela desceu de um ônibus e a levaram para o matagal. Já amarrada, ela contou que um dos homens recebeu uma ligação telefônica dando a ordem para que ela fosse queimada. A mulher lembra, inclusive, ter ouvido o homem dizer: “Você vai queimar bem devagar, que é pra ver como o inferno é quente”.
Espancada, ela foi amarrada numa árvore. Os três homens atearam fogo na vegetação e foram embora. Uma moradora da vizinhança, viu o fogo se espalhando e ouviu a mulher gritando por socorro. Essa pessoa chamou a polícia, que chegou a tempo de salvar a vítima. Uma equipe do Samu levou a mulher ao Hospital Regional Deoclécio Marques em estado de choque e com queimadura nas pernas, onde ela recebeu atendimento. Ainda de acordo com a polícia, a irmã de Francisco recebeu alta médica e permanece sob proteção de uma escolta armada.
Mulher foi amarrada numa árvore numa região de mata fechada. Chamas atingiram as penas da vítima, que foi socorrida em estado de choque para o hospital
(Foto: Gilmar Santos/Inter TV Cabugi) |
Testemunha-chave
As investigações revelam que a irmã de Francisco de Assis deveria ter sido morta como queima de arquivo, pois foi justamente ela quem o entregou à polícia. Em depoimento, dado logo após a chacina, a mulher relatou que o irmão a vinha ameaçando fazia alguns meses por conta de uma casa. De acordo com o relato, Francisco quer que a irmã saia do imóvel para que ele fique com a residência.
Prostíbulo onde aconteceu a chacina
(Foto: Francisco Coelho/Focoelho.com) |
Numa tentativa de se defender, a mulher disse que daria queixa à polícia contando das ameaças e que ainda chamaria uma das proprietárias do bordel para que esta testemunhasse contra Francisco. O inquérito também revela que o comerciante seria o responsável pelo abastecimento do prostíbulo, fornecendo bebidas, cigarros e drogas. Além disso, Francisco também teria uma participação nos lucros do negócio, recebendo uma parte do dinheiro pago pelos programas das garotas. Contudo, segundo o delegado Normando Feitosa, a gerente da casa estaria cobrando um determinado valor pelos programas, mas não estaria repassando o valor combinado.
Motivações
Insatisfeito em estar sendo passado para trás, e já sabendo que a gerente do prostíbulo poderia ser a pessoa que viesse a testemunhar contra ele no caso das ameaças pela disputa do imóvel da irmã, Normando acredita que estes dois fatos motivaram a chacina. “Sentindo-se acuado, ele teria planejado e dado a ordem para que a gerente fosse morta. Como havia outras mulheres no local, todas acabaram assassinadas”, acrescentou.
“A princípio estamos trabalhando com essas informações. As mulheres foram assassinadas na madrugada. Assim que o dia amanheceu e a irmã do Francisco soube da chacina, ela ficou com muito medo e nos procurou para entregar o irmão. A Justiça concedeu o mandado de prisão e ele foi detido. Agora estamos tentando chegar aos criminosos que executaram as mulheres no bordel e também aos homens que tentaram matar a irmã do Francisco, que está sob proteção policial”.
Após a prisão de Francisco de Assis Júnior, policiais fizeram buscas na casa do suspeito, em Macaíba
(Foto: Divulgação/Polícia Civil e Felipe Gibson/G1) |
Prisões
Francisco de Assis Júnior, o comerciante mantenedor do prostíbulo, foi preso na manhã desta sexta-feira (17) ao se apresentar na Delegacia de Macaíba. Ele foi intimado a comparecer à DP por conta da queixa de violência doméstica que a irmã dele prestou. Como a polícia já tínha em mãos um mandado contra ele no caso da chacina, assim que ele chegou recebeu voz de prisão.
Após a prisão, agentes foram à casa do suspeito e fizeram uma busca. No local foi apreendido um aparelho celular que contém imagens da chacina e das cinco mulheres mortas. O delegado revelou que o telefone pertence à mulher de Francisco de Assis. “Há algum interesse dela ou mesmo do próprio marido nesta história. E isso nós também vamos descobrir”, ressaltou o delegado. A prisão de Francisco foi a segunda referente ao caso. Na noite da quinta (16), um homem foi preso em Itajá também apontado como suspeito de envolvimento no crime.
A chacina
A chacina aconteceu na madrugada da quarta-feira (15) no município de Itajá. Quatro homens armados e encapuzados entraram no local onde funcionava um prostíbulo e efetuaram os disparos. As cinco mulheres que estavam na casa foram mortas com tiros na cabeça. Dois corpos foram encontrados em uma sala, outros dois na cozinha e a quinta vítima foi morta no banheiro de uma suíte. Não havia clientes no prostíbulo no momento do crime.
Foram mortas Patrícia Regina Nunes, de 37 anos, natural de Natal (gerente do prostíbulo), Antônia Francisca Bezerra Vicente, de 32 anos, natural de Upanema, e Maria da Conceição Pedrosa, de 21 anos, Maria Daiane Batista, de 20 anos e Cássia Rayane Santiago Silva, de 17 anos, naturais de Assu. As vítimas foram reconhecidas por familiares no Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep).
Patrícia Regina Nunes (dona do estabelecimento), Cássia Rayane Santiago Silva, Maria Daiane Batista e Antônia Francisca Bezerra Vicente são quatro das cinco vítimas
(Foto: Divulgação/PM) |
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