Assim que a rede do Corinthians foi balançada, no domingo (21), o
assistente José Eduardo Calza assinalou impedimento de Gabriel, do
Flamengo. Foi só após 5min15 de espera que o juiz Leandro Vuaden
corrigiu a marcação inicial e validou o lance que definiu o empate por 1
a 1 no estádio de Itaquera.
A comemoração do gol, anotado aos 39 do 2º tempo, ocorreu aos 45. E o
confronto ainda se estendeu até os 55, com dez minutos de acréscimo que
não causaram espanto. No primeiro Brasileiro com a presença do VAR, têm
sido comuns os jogos prolongados bem além do padrão antes considerado
normal, como compensação pelo tempo gasto na análise das imagens.
Só na última rodada, três partidas foram ao menos até os 54 min da
etapa final: Internacional e Grêmio (empate em 1 a 1), Atlético-MG e
Fortaleza (2 a 2) e a já citada partida em Itaquera.
Os três jogos ajudaram a deixar a média de duração das partidas
consideravelmente superior à registrada no torneio do ano passado.
No Brasileiro atual, de acordo com levantamento da Folha, há 7min51
de acréscimo por jogo. Nos embates em que o VAR é usado e relatado na
súmula (67 dos 109 realizados até a 11ª rodada), esse número salta para
8min39. Aumento de 27,9% em relação aos 6min46 de 2018.
Só no 1º tempo, que geralmente tem acréscimos menores, o crescimento foi 59 segundos (de 2min25 em 2018 para 3min24 em 2019).
A etapa final ganhou 54 segundos (de 4min21 para 5min15). Entre os
218 tempos disputados nas 109 partidas realizadas até o último final de
semana, só um não teve acréscimo: o 1º de Cruzeiro e Goiás, na 3ª
rodada.
A CBF diz que “realiza treinamentos constantes para aprimorar a
metodologia” e que “reduzir o tempo de checagem é um dos objetivos”, mas
não o maior. “A principal meta é levar mais justiça às partidas”, algo
que a entidade julga estar alcançando.
Segundo números divulgados pela confederação, houve 40 erros capitais
corrigidos até a 9ª rodada, com índice de acerto de 97,1% nos lances
previstos no protocolo: gols, expulsões, erros de identificação e
pênaltis.
“Estamos vivendo um momento único na história do futebol. O protocolo
vai evoluir, gradualmente”, afirmou o presidente da comissão de
arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba. “É possível agilizar, e isso vai
acontecer a partir do maior entrosamento da equipe de arbitragem do
campo com os integrantes do VAR. A duração do processo é importante, e
estamos buscando melhorias nesse sentido.”
Enquanto elas não vêm, a demora causa constrangimentos. Até os
beneficiados pela revisão de vídeo estranham a situação de comemorar um
gol com atraso. O flamenguista Gabriel tentou celebrar efusivamente,
deslizando com os joelhos no gramado mais de 5 min depois de balançar a
rede contra o Corinthians, mas admitiu após o empate que a situação está
longe da ideal.
“É muito ruim. Não é o que a gente quer, não é o que os brasileiros
querem, não fica legal para o futebol”, afirmou, sobre a longa espera
para soltar o grito. “Mas pelo menos acertaram. É ruim quando se demora
muito tempo, uma decisão um pouco conturbada é tomada e ninguém entende o
que foi aquilo.”
Vitor Bueno, do São Paulo, também precisou aguardar a correção de um
impedimento mal marcado para vibrar com seu gol pelo São Paulo, na
segunda (22), no triunfo por 4 a 0 sobre a Chapecoense. Ele lamentou a
situação, à qual também vêm tendo que se adaptar os narradores da
televisão.
Odinei Ribeiro, que fazia a locução da partida no canal Premiere,
continuou gritando gol mesmo ao ver a bandeira levantada, um tanto
indeciso. “O narrador grita o gol, mas o bandeira está anulando o gol do
Vitor Bueno”, disse, observando que
Igor Vinícius não estava em posição
de impedimento ao fazer o passe para Bueno.
“Eu acho que o narrador tinha que continuar a narração, hein? Vou ter
que gritar de novo o gol, PC?”, perguntou Ribeiro ao comentarista Paulo
César de Oliveira. “Pode se preparar para gritar novamente, Odinei”,
respondeu o ex-juiz. Após checagem relativamente rápida, de 1min25, o
gol foi gritado de novo, já sem hesitação.
Nesse caso, como tem ocorrido desde a pausa no Brasileiro para a
disputa da Copa América, o lance foi repetido na transmissão enquanto
era feita a revisão pelo VAR. Nas primeiras rodadas, a TV Globo vinha
evitando exibir as repetições, o que causou irritação nos espectadores.
Agora, os torcedores que acompanham os jogos pela TV não precisam
esperar o árbitro de vídeo para tirar suas próprias conclusões.
Folhapress