Desde que recebi o vídeo do transbordar das águas do açude a voz de papai martela em minha cabeça dizendo: “é fartura Auta, é tempo de fartura”. A imagem dos dois abraçados e sorrindo celebrando a chuva, celebrando os pastos cobertos de verde e os dedos de mamãe presos ao rosário e ao terço agradecendo as bênçãos que é ter o açude cheio e transbordando levando sua fartura as terras abençoadas de nossa família.
O açude cheio era o esteio do agricultor e fazia anos que eu não provava deste gosto ou sentia, em arrepios até, a felicidade de tais tempos. Boa Hora se veste de verde, se cobre em alegria e os pastos gerarão mais vida. É estranho, pois sinto uma radical singularidade do tempo. Açude de Auta, devota de Santa Rita, encheu-se e transbordou no dia da padroeira, 22 de maio, justamente no ano em que as festividades, ora superado o maior momento da pandemia, retornaram.
Meu sorriso se assemelha ao de meu pai, minha felicidade é como a do homem do campo e Boa Hora, com seu açude cheio, aponta o caminho de novos tempos.
CLEUDIA BEZERRA PACHECO
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