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domingo, 29 de março de 2020

Coronavírus: quanto tempo deve demorar até a gente ter uma vacina?

© Ilustração: André Moscatelli//Coronavírus: quanto tempo deve demorar até a gente ter uma vacina?/SAÚ... As perspectivas mais otimistas garantem que o imunizante contra o novo coronavírus estará disponível em 18 meses
“Se tivéssemos uma vacina, não estaríamos vivendo toda essa situação com o novo coronavírus agora”. Foi assim que o médico Jorge Kalil, professor de imunologia clínica e alergia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, começou nossa entrevista. Ele tem razão no que fala: além de ser um dos mais reconhecidos e respeitados cientistas brasileiros, possui ampla experiência como diretor do Instituto Butantan, o maior fabricante de vacinas na América Latina, durante sete anos

Kalil, inclusive, lidera um dos esforços para a criação de uma vacina para combater o Sars-Cov-2, o tipo de coronavírus que está por trás da Covid-19, doença que provoca a pandemia atual. Ele não está sozinho nessa empreitada: a Organização Mundial da Saúde calcula que há pelo menos 20 imunizantes diferentes sendo estudados nesse exato momento em várias partes do mundo. Nas últimas semanas, grupos de cientistas da China e dos Estados Unidos anunciaram testes em humanos, o que significa um avanço e tanto.Apesar de as notícias serem animadoras, precisamos permanecer com os pés no chão. O doutor Kalil e outras fontes ouvidas por SAÚDE acreditam que, infelizmente, não teremos uma vacina pronta para ser utilizada em menos de 18 meses. “É preciso levar em conta todo o processo envolvido nisso: falamos de um vírus completamente novo, que pulou para a espécie humana há pouco tempo. Precisamos entender se as candidatas que estão análise são seguras, se não trazem nenhum efeito colateral, quantas doses são necessárias para gerar anticorpos…”, lista Kalil.

Uma longa estrada pela frente antes de termos a vacina contra o coronavírus

Em situações normais, vacinas e remédios passam por um rito longo e complexo antes de serem aprovados para uso em seres humanos. Tudo começa com os estudos pré-clínicos, que são feitos em amostras de células e cobaias, nas bancadas de laboratórios.

Se tudo der certo, o próximo passo são as pesquisas clínicas, que envolvem testes com seres humanos. Esse estágio é dividido em três fases, em que são testadas a segurança e a eficácia daquele novo produto. Em cada uma, o número de voluntários envolvidos aumenta, o que garante confiança e solidez ao processo.

Todas essas informações são divulgadas nos jornais científicos, como The Lancet, Journal of the Americal Medical Association, Nature e Science. Isso permite que outros cientistas, que não estão necessariamente envolvidos com o assunto, possam analisar os dados e checar se tudo está correto.

Essa estratégia, consagrada há décadas, ainda ajuda a repetir o mesmo experimento utilizando os mesmos métodos num outro contexto, para ver se os resultados são iguais. As grandes descobertas científicas, que impactam a nossa vida, acontecem a partir do acúmulo de conhecimento ao longo do tempo.

Os números a seguir dão uma noção do rigor de todo esse procedimento: de cada 5 mil novas moléculas que são testadas em todas aquelas fases que mencionamos acima, apenas uma consegue passar com sucesso e ser aprovada para uso comercial. Os laboratórios gastam, em média, 2,6 bilhões em todo esse caminho, que costuma ser trilhado em cerca de 12 anos.

Situações de exceção

É óbvio que, num contexto adverso, como o surgimento de um novo vírus que provoca uma pandemia, os ritos da ciência se aceleram. Afinal, não dá pra esperar uma década para ter uma solução capaz de se opor a um problema urgente, que está matando milhares de pessoas ao redor do mundo.

Nesse sentido, as agências regulatórias da Europa e dos Estados Unidos, que controlam quais remédios podem ser vendidos ou não nesses territórios, adotam um regime chamado fast track (ou faixa rápida, numa tradução literal). A ideia é agilizar o processo e permitir que a população tenha acesso a remédios e vacinas mesmo sem a conclusão de todas as fases de pesquisa. A lógica é que os potenciais benefícios suplantam qualquer risco.

E é justamente isso o que está acontecendo agora em relação ao coronavírus: as agências regulatórias já declararam o tal do fast track e poderão aprovar novos produtos que mostrarem bons resultados numa fase intermediária, mesmo sem todas as evidências de eficácia num número maior de voluntários. 

Corrida contra o relógio (e contra o coronavírus)

Mas, afinal, como andam as vacinas capazes de prevenir a Covid-19? De acordo com o doutor Kalil, os grupos internacionais investem num imunizante que utiliza algo chamado RNA mensageiro. Calma que a gente explica: uma vez dentro do organismo, essa molécula teria a capacidade de entrar em algumas células. Elas passariam então a produzir proteínas que também aparecem na superfície do Sars-Cov-2, o novo coronavírus. Com isso, o sistema imune conseguiria reconhecer e rechaçar uma eventual invasão do vírus de verdade.

A estratégia brasileira é diferente: a equipe liderada por Kalil está construindo em laboratório uma “casquinha” que imita o coronavírus. Na superfície dessas moléculas estão as tais proteínas desse agente infeccioso, que suscitariam uma resposta efetiva do sistema imune. “Em vez de dar a informação para que o organismo produza as proteínas, nossa proposta é entregar ao corpo as proteínas prontas”, resume o especialista.

Em outras palavras: no projeto internacional, a candidata à vacina ensina o organismo a pescar. Na iniciativa brasileira, o imunizante já dá o peixe logo de cara.

Vale mencionar que essa competição não precisa ter um único vencedor. “Seria importante dispormos de mais de um de tipo de vacina, até pelo tempo que levará para produzir as milhões de doses necessárias para proteger toda a população mundial”, vislumbra Kalil.

Por fim, o especialista destaca que, em situações como a que nós estamos vivendo, a importância de investir em ciência no Brasil se torna evidente. “Trata-se de uma questão estratégica. É lógico que o país que tiver capacidade de produzir um imunizante ou remédios privilegiará sua população antes de exportar o produto para outras nações”, aponta.

Não tem escapatória: a possibilidade de ter uma vacina contra o novo coronavírus amanhã depende do que cientistas e governantes fizerem hoje.

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