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terça-feira, 23 de agosto de 2016

Após ter braços amputados, jovem vira designer gráfico; 'Não há limites'

Edilson Jesus foi eletrocutado em 2006 enquanto trabalhava em Caicó.
Ele desenvolveu a habilidade de fazer as coisas com os pés.

 
Edilson desenvolveu a habilidade de fazer as coisas com os pés 
(Foto: Fernanda Zauli/G1)

Um acidente de trabalho em 2006 mudou completamente a vida do soldador Edilson Jesus, na época com 23 anos. Após sofrer três descargas elétricas, ele teve os dois braços amputados, passou por onze cirurgias, é colostomizado (quando o intestino grosso fica fora do organismo e as fezes são coletadas em uma bolsa que fica no abdômen) e usa sonda para urinar. Nada disso fez com que ele perdesse a vontade e a alegria de viver. Edilson se reinventou, desenvolveu a habilidade de fazer as coisas com os pés e hoje é designer gráfico. "A vida é maravilhosa. Não há limites pra ninguém. Eu amo a vida. Eu tive uma nova oportunidade e quero aproveitar muito bem cada dia", diz.

Edilson trabalhava no reparo de um outdoor na entrada da cidade de Caicó, onde mora até hoje, quando o cabo de ferro que ele segurava acertou um fio de alta tensão da rede elétrica. Na primeira descarga elétrica um colega de trabalho de Edilson caiu do andaime onde estavam, a 6 metros de altura, teve traumatismo craniano e morreu. Edilson não conseguia se mexer e continuou pendurado na estrutura do outdoor. Outras duas descargas elétricas atingiram o soldador que naquele momento já não sentia mais as pernas. Uma hora e dez minutos se passaram até o socorro chegar.

"Enquanto eu estava lá em cima passou um filme da minha vida na cabeça. Eram pequenos flashs, coisas que eu nem lembrava mais. Eu achei que ia morrer", conta. Edilson foi socorrido e levado para o Hospital Walfredo Gurgel, em Natal. Da internação até a alta foram 180 dias. Entre tratamentos e cirurgias, Edilson se tornou um exemplo de vida já no hospital. O bom humor, mesmo diante da gravidade do caso, fazia com que as enfermeiras levassem outros pacientes para conversar com ele para se animarem.

Após a alta, Edilson teve que se adaptar à nova realidade. Com a ajuda da família e dos amigos, foi superando, aos poucos, as barreiras que apareciam. Muitas das coisas que antes Edilson fazia com as mãos, ele aprendeu a fazer com os pés: atender o telefone, escrever e até digitar. Sem perder a vontade de viver, ele continuou na organização do bloco de carnaval que sempre fazia. Um dia, quatro anos depois do acidente, quando foi mandar fazer a camiseta do bloco, ele levou um "chá de cadeira" para ser atendido porque não tinha a arte da camiseta pronta.

"Saí de lá disposto a aprender a fazer uma arte e comecei a mexer no computador. Passei noites estudando, me aperfeiçoando, fazendo testes, até conseguir criar uma arte. Quando eu levei o desenho para a gráfica eles me perguntaram quem tinha feito e eu respondi: 'fui eu'. Ninguém acreditou", conta Edilson.

Foi então que surgiu a ideia de trabalhar como designer gráfico. Os trabalhos começaram a aparecer, foram aumentando, e hoje ele consegue uma renda extra - além da aposentadoria - com o serviço de designer gráfico. Edilson acredita que no começo as pessoas o contratavam mais por curiosidade, pra ver como ele mexia no computador com os pés, mas o tempo foi passando e os clientes continuaram aparecendo. O escritório fica anexo à casa onde ele mora. "O trabalho é uma terapia. É muito bom acordar e saber que eu posso produzir, criar alguma coisa", diz.

 
Priscila, Douglas e Edilson moram juntos 
(Foto: Fernanda Zauli/G1)

Fim do casamento
Em 2006, quando sofreu o acidente, Edilson estava casado há dois anos com Priscila Morgana. Na época ele tinha 23 anos e ela 22. Ainda no hospital, ele recebeu a notícia de que estava impotente sexualmente. "Não pensei duas vezes. O sonho da Priscila era ser mãe e eu não podia dar um filho a ela. Então falei que era melhor nos separamos e ela seguir a vida dela", conta.

Priscila ficou em choque com a situação e decidiu continuar cuidando de Edilson. Fez um curso de técnica em enfermagem para ter mais conhecimento e ajudá-lo na rotina. Os dois continuaram morando na mesma casa, mas separados. Aos poucos Priscila começou a retomar a vida social, sair, até encontrar Douglas - um rapaz nove anos mais jovem que ela. Os dois começaram a namorar, o relacionamento ficou sério e ela e Douglas decidiram morar juntos. Hoje, os três: Edilson, Priscila e Douglas moram na mesma casa.

"A Priscila e o Douglas são meus braços. Eles me ajudam muito. Nós somos uma família", diz Edilson. "Hoje eu tenho ele (Edilson) como um irmão. Eu nunca pensei em deixar de cuidar dele e tenho orgulho de ver como ele enfrenta tudo o que passou", revela Priscila. "Ele é um irmão do coração. Ele me dá muito conselho e o que eu puder fazer por ele eu vou fazer sempre", diz Douglas.

Palestras
Edilson não se queixa da vida, não lamenta tudo o que já passou e mantém o sorriso no rosto para enfrentar a rotina. Ele diz que reclamar não iria melhorar em nada a situação dele e que prefere olhar para o que a vida lhe traz de bom.

Admirada com a alegria de viver de Edilson, uma enfermeira que troca a sonda dele toda semana o convidou para dar uma palestra sobre superação na faculdade onde ela lecionava. "Ela disse que eu precisava compartilhar a minha história, que eu era muito desenrolado. Eu fiquei com medo, mas fui. Achei que era pra turma que ela dava aula e quando cheguei lá era pra faculdade toda, o ginásio estava cheio", lembra Edilson.

Ele teve medo, mas foi em frente. O resultado não poderia ser melhor: as pessoas adoraram ouvir o testemunho de Edilson e os começaram a surgir outros convites para palestras. "Eu quero contar a minha história pra fortalecer as pessoas para que elas superem os desafios que a vida apresenta. Quero falar do valor da vida, o quanto ela é maravilhosa. Eu sei que nada do que eu passei foi em vão e eu acho que compartilhando minha história eu posso ajudar as pessoas", diz.

 
Edilson Jesus em uma das palestras que já ministrou 
(Foto: Arquivo pessoal)
 
Fernanda ZauliDo G1 RN

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