O rangido das portas se abrindo à meia madrugada anunciavam o meu pai acordado e pronto para a luta no campo. Os passos firmes, aligeirados e compenetrados na ideia tardia de começar a trabalhar antes do sol nascer. Talvez fosse o sol como uma medalha, como um presente de Deus a acariciar o seu rosto sereno, firme e sério.
Papai via beleza no simples da vida. Como todo nordestino, sua alegria era ver a plantação sendo agoada por Deus. Até hoje trago no peito os seus exemplos. O principal deles, o trabalho duro e a exímia perseguição de encontrar gosto no aprender e no estudar que, para ele, são caminhos inexoráveis para a conquista do sucesso.
Nem sua partida prematura, fez o tempo apagá-lo de meu coração. Ainda hoje ouço o som dos seus passos em Boa Hora, o vejo refletido naquelas terras e, em minha cabeça, a fonética eloquente de suas palavras.
Transmutado em minha frente, ainda o vejo banhado de suor e de terra, sendo acolhido por mamãe. Ainda o vejo ouvindo o rádio, descobrindo um mundo além do que os seus olhos podem ver. Passou-se o tempo, seu corpo se afastou da gente e ainda assim não há um só dia em que eu não pense em Papai.
Aos filhos que me leem, a idade me permite aconselhá-los: Amem os seus pais, porque pai é como exemplo que fica, que orienta e, por nos amar, quer-nos sempre o bem.
CLEUDIA BEZERRA PACHECO
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