MUSEU AUTA PINHEIRO BEZERRA: A fogueira de Boa Hora reverência Dona Auta
Se um dia eu pudesse conversar com mamãe, iria lhe perguntar aonde ela arrumava tanta força para travar tantas batalhas ao mesmo tempo, sem nunca deixar de ser a mãe amorosa, a esposa parceira, a amiga leal e, claro, a devota singular.
Nesta semana que se finda com as fogueiras e brincadeiras de São João, eu me pego pensando na poeira subindo no terreiro de Boa Hora sob os passos ordeiros e aligeirados das moças e dos rapazes, da grande fogueira ardendo em brasas e também das comidas que, a tanto gosto, mamãe passava a tarde fazendo. Era com sorriso no rosto que via ela cheia de serviço na cozinha de Boa Hora, onde a melhor hora era quando raspavamos o tacho da canjica. Escrevendo isso, e pensando nisso também, esse gosto profundo dança entre a língua e o céu da boca.
Ah, quando o sol quente ia embora, eu via Boa Hora decorada, com suas cores, com seus sabores e com a alegria do seu povo pintada sob a aquarela do entardecer. Mamãe coordenava tudo, altiva e organizada como era. Sua voz, chamando um e outro de "Cristão" ainda soa em meu ouvido como se fosse um canto, um chamado, uma mensagem.
Se eu conversasse com ela, diria que Boa Hora está de pé. Mas que, sem ela, a Boa Hora de hoje não é a mesma dos folguedos e das emoções, dos pipocos e das brasas em festa, as da fogueira e as do coração.
Acenderei uma fogueira, mamãe. Talvez eu esteja por lá para ver parte dela se transformar em brasa, na esperança de que o brilho desta luz possa reverenciar a sua trajetória.
Cleudia Bezerra Pacheco
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