CLEUDIA BEZERRA PACHECO |
Mamãe se enchia de dedos para falar da formação dos seus filhos. Era como a consagração do seu esforço junto a papai, e, sem deixar de ser, éramos frutos das coisas de Boa Hora. Filhos e filhas do algodão e do trabalho rural. O dia de nossas formaturas, foi para mamãe uma ocasião de felicidade e, como ela gostava de fazer, de agradecimento aos céus e aos seus santos protetores, em especial sua madrinha Santa Rita.
Dona Auta segurava aqueles diplomas como um devoto ante o sacramento. Seu olhar devotado e com lágrimas contidas nos diziam que ela estava feliz, sabedoria de que seus conselhos foram ouvidos, sentidos e considerados, visto que a partir dali teríamos chances de construir novas histórias, fazendo maior a nossa família. Lembro de tê-la ouvido falando às suas amigas "Quequeda? (apelido que ela me conferiu) Quequeda é professora. Formada em geografia!"
Escrevo sobre isso hoje, porque esta semana tive uma grata surpresa. Meu nome foi considerado relevante para compor a U.B.E.-RN (União Brasileira de Escritores). Pouco chegou a notícia, pensei em como ela reagiria se estivesse do meu lado. Tenho pensado muito nela e nas coisas que ela diria, faria… Visto que desejava ter, neste momento, a garra que ela tinha.
Ah, meu senhor e minha senhora, imagino ela contente, me dando os parabéns e dizendo, naquela voz, que para mim tão profunda - nunca ouvi mais amável -, "Não se esqueça de suas origens e muito menos de agradecer".
Eu agradeço mamãe. Agradeço aos céus, e também a senhora pelo tudo que me ensinou e muito que fez por mim, a principal: fazendo acreditar que era possível uma menina filha de agricultores ser professora, ter diploma, pertencer a duas academias de letras no Rio Grande do Norte e, agora, ter uma cadeira junto aos imortais Brasileiros da literatura.
CLEUDIA BEZERRA PACHECO
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